O encrenqueiro Michael Moore

Uma redundante declaração: Adoro Problemas! Não era de se esperar que fosse outro o nome do novo livro de Michael Moore, uma autobiografia para deixar a borda dos estados unidenses um pouco mais abaixo do nível em que já estão. Moore é o que costumam chamar de profissional engajado, designação sutil dos críticos, loucos para chamá-lo por todos os adjetivos desqualificados possíveis mas para não tomar uma coça e acabar virando nome marcado no próximo documentário “engajado” é mais adequado para estes casos. Mas prá além de ser o big Michael Moore, merece este post o prefácio do livro  de Walnice Nogueira Galvão, professora Emérita da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP.

“Walnice Nogueira Galvão fez sua carreira docente em Teoria Literária e Literatura Comparada, como primeira assistente de Antonio Candido.Afeita a enfrentar grandes desafios como pesquisadora e estudiosa de literatura, já para as suas teses de doutoramento (1970) e de livre docência (1972) escolheu dois monstros sagrados: Jõao Guimarães Rosa e Euclides da Cunha. Delas resultaram dois livros clássicos, respectivamente: As formas do falso – Um estudo sobre a ambiguidade no Grande Sertão: veredas e No calor da hora – A guerra de canudos nos jornais, que primam pelo rigor e pela erudição.

Publicou ao todo trinta e três livros, dedicados à crítica literária e cultural abrangente e diversificada, além do muito que escreveu para jornais e revistas; sem falarnos incontáveis cursos, palestras, arguições, prefácios e pareceres, no Brasil e no exterior. Para os estudos do gênero, contribuiu com outro clássico, A Donzela Guerreira. (fonte: http://comunicacao.fflch.usp.br/node/321)”

Bem acompanhado, vem Michael Moore!

BOA LEITURA!!!

A verdade do traidor

Carlos Mariguella

 

Resumo Documentos reunidos por entidade que tenta resgatar a memória dos anos de chumbo mostram com riqueza de detalhes informações que cabo Anselmo, o mais notório militante da esquerda a mudar de lado, reuniu sobre a luta armada e entregou à ditadura. Relatórios a que a Folha teve acesso incluem textos do próprio “cachorro”, escritos com estilo quase jornalístico.

LAURA CAPRIGLIONE

No dia 7 de maio de 2008, a então ministra da Casa Civil do governo Lula, Dilma Rousseff, foi confrontada pelo senador José Agripino Maia (DEM-RN) em audiência no Senado. Para sugerir que ela mentia a respeito de um dossiê secreto sobre desafetos do petismo, produzido no seio do governo federal, Maia argumentou que a ministra, ex-guerrilheira, já havia faltado com a verdade antes, ao ser presa pela ditadura militar.

Dilma lembrou que tinha então 19 anos, ficou três anos na cadeia e foi “barbaramente” torturada. “Qualquer pessoa que ousar dizer a verdade para interrogadores compromete a vida de seus iguais, entrega pessoas para serem mortas”, prosseguiu. “Eu me orgulho muito de ter mentido, porque mentir na tortura não é fácil. Agora, na democracia, se fala a verdade.”

Vinte e seis anos após o fim da ditadura, quando o Brasil se prepara para instaurar sua Comissão da Verdade, destinada a apurar violações de direitos humanos cometidas pelo Estado naquele período, é revelador ler relatórios, detalhados e coloridos, em bom português e com estilo quase jornalístico, de alguém que resolveu (e orgulha-se disso) “falar a verdade” nos anos de chumbo.

A Folha teve acesso a quase uma centena de documentos daquele período sobre o ex-marinheiro José Anselmo dos Santos, o cabo Anselmo -vários escritos por ele mesmo-, que entrou para a história como o mais famoso dos “cachorros”, como eram chamados os militantes de esquerda que passavam a atuar como espiões para os órgãos de segurança.

Os relatórios foram coligidos pela Comissão de Familiares de Mortos e Desaparecidos Políticos, entidade que tenta resgatar a memória do período de 1964 a 85, quando sucessivos governos militares assenhoraram-se do poder no Brasil. Saídos dos arquivos da repressão, de órgãos como o Departamento de Ordem Política e Social de São Paulo (Dops) e os centros de informações do Exército (CIE) e da Marinha (Cenimar), são instantâneos dramáticos da história enquanto ela era escrita.

O CARA Bom de discurso, carismático, Anselmo foi “o cara” nos tempos irados que marcaram o fim do governo João Goulart (1961-64). Era então presidente da Associação de Marinheiros e Fuzileiros Navais do Brasil. Depois, ainda envolto na aura mística de líder sindical de massas, virou guerrilheiro quando parte da esquerda nativa embarcou no sonho heavy metal de derrubar a ditadura pela via das armas. Preso, em 1971, Anselmo -que nunca chegou a cabo, mas recebeu a alcunha por um mal-entendido com suas insígnias militares- tornou-se um traidor.

Chegou a se vangloriar de ter fornecido à repressão informações que levaram à morte 200 militantes. Seguro é que as delações de Anselmo permitiram à polícia liquidar pelo menos 11 “inimigos do regime”, entre os quais sua própria mulher, a “sensível”, “loira”, “esguia”, “de olhos azuis”, “simpática” e poeta (assim designada por ele mesmo, qual namorado apaixonado) Soledad Barrett Viedma, então com 28 anos, grávida de um filho seu, gestação de quatro meses.

Os documentos sobre ele, reunidos em pesquisa capitaneada pelo ex-guerrilheiro e ex-preso político Ivan Seixas, membro da Comissão de Familiares de Mortos e Desaparecidos Políticos, estão repletos de descrições como essas, numa pilha de 20 centímetros de altura.

Todos produzidos em máquinas de escrever, nenhum manuscrito, vários papéis contêm o testemunho do próprio cabo Anselmo no ato da delação, ainda sem se preocupar com o acerto de contas com a história (hoje, aos 69 anos, Anselmo diz que lutava “para salvar o Brasil do comunismo”). Como método, o detalhe e a precisão.

NAMORADA O destinatário dos textos caprichosamente datilografados era o delegado Sérgio Paranhos Fleury (1933-79), do Dops de São Paulo, notório torturador de presos políticos, o mais bem-sucedido caçador de inimigos do regime -foi ele quem montou a operação que liquidou Carlos Marighella (1911-69), um dos principais ideólogos da luta armada.

A ele Anselmo entregou um relato biográfico sobre Soledad, codinome Lurdes del Sol, sua namorada, no texto com o sugestivo título de “Relatório de Paquera”, de novembro-dezembro de 1971.

“Lurdes (del Sol) é filha de um chefão do PC paraguaio”, ele escreveu. “Desde a infância fazia trabalhos de militância. Passou à Argentina, viveu no Uruguai e depois, por volta de 1965/66, viajou a Moscou, onde cursou marxismo-leninismo como bolsista da Universidade Patrice Lumumba. Enjoou dos russos, separou-se do pai, que, segundo disse, colocou a polícia em sua pista por militar na Argentina e ser contrária à linha do Partido a que ele pertencia.”

Anselmo contou ainda que, em 1967, a moça encontrou os cinco irmãos, “na Alemanha ou na Argentina”, e eles lhe propuseram que fossem juntos a Cuba treinar guerrilhas. Lá, ela conheceu o brasileiro José Maria Ferreira de Araújo, o Ariboia, também militante da Vanguarda Popular Revolucionária (VPR).

“Casaram-se, enfrentando todas as pressões cubanas em contrário. Cada irmão pertence a uma das facções do PC paraguaio. E ela agora é uma simpática aventureira, ligada emocionalmente à VPR. Seu fim: servir à ‘Revolução’. ‘Revolução’ indefinida, contra o imperialismo ianque e soviético, contra Cuba, contra os PCs tradicionais, ao lado das guerrilhas. Anarquismo total para o mês que vem.”

Segue o relato de Anselmo para Fleury: “Lurdes está treinada para o trabalho de cidade, conhece explosivos e fala português, russo e espanhol, além de guarani. É loura, esguia, olhos azuis, aproximadamente 1,80 m. Escreve poesias revolucionárias que nunca publicou. É extremamente sensível. Estou muito ligado afetivamente a ela. Mais, no entanto, prezo o que estou reconquistando. Caso seja possível, caso seja possível desejar, que sua solução final fosse a expulsão do Brasil, ou pelo menos, não fosse extrema”.

O que estava “reconquistando” o traidor que não sabia nem se tinha direito a desejar algo? Ele não diz.

Fleury massacraria Soledad dois anos depois, em emboscada armada pelo próprio Anselmo na cidade de Paulista (PE), na qual foram mortos seis membros da VPR.

CONFIDENCIAL Anselmo ensinou à repressão tudo o que havia aprendido em Cuba, transformada na época em polo exportador de revolução. Provém dele boa parte das informações contidas no relatório do Centro de Informações do Exército de 13 de novembro de 1973, em que se arrolam os nomes de 204 esquerdistas que fizeram cursos de guerrilha na ilha de Fidel Castro.

O “relatório confidencial” distribuído aos departamentos da repressão parece à primeira vista a lista de matrícula de uma faculdade. Linha por linha, lê-se o nome real de cada militante, os codinomes que usava, as organizações a que era ligado, os cursos que fez em Cuba. Esses podiam ser de armamento, fotografia, imprensa, enfermagem, inteligência, instruções revolucionárias, explosivos.

Constam entre os “alunos” dessa “Universidade da Guerrilha”, segundo o CIE, o hoje militante do PV Fernando Gabeira, o petista Carlos Minc e os ex-ministros José Dirceu e Franklin Martins.

Anselmo escreve a Fleury que foi enviado a Cuba por uma organização criada por Leonel Brizola no seu exílio uruguaio, o MNR ou Morena (Movimento Revolucionário Nacionalista, às vezes apresentado como Movimento Nacionalista Revolucionário), para “aprender as táticas de guerrilha”. Brizola levou a sério (por pouco tempo, é verdade) a hipótese de uma reação armada à ditadura militar.

Em outro relatório para a polícia, sem nome ou data, Anselmo contou como fez a viagem a Cuba, em típico enredo de livro de espionagem (gênero literário pelo qual, aliás, ele confessa sua admiração).

“Em fevereiro de 1967, após receber um passaporte e os necessários meios financeiros, roteiro de viagem, o dia e a companhia aérea que devia usar, [com Evaldo, ex-marinheiro] segui de navio para a Argentina. [Lá], compramos passagem pela Air France para Paris, onde nos esperava Max da Costa Santos, que nos orientou a viajar para a Tchecoslováquia. Devolvemos os passaportes e viajamos pela companhia Cubana de Aviación para Cuba com papéis que nos foram dados pela embaixada cubana.”

Sobre a experiência em Cuba, onde permaneceu até setembro de 1970, Anselmo relata: “Instrutores militares ensinaram-nos a atirar, limpar armas e tática guerrilheira, práticas de defesa de acampamentos, confecção de armadilhas, trabalho com explosivos, confecção de minas, identificação de sons, cálculo de distâncias, orientação, codificação de mensagens”.

Ele aprendeu ainda a escrever com tinta invisível (com urina, no verso de cartas falsas: bastava expor a mensagem a uma fonte de calor, como um ferro elétrico ou uma lâmpada, e a urina escurecia, permitindo a visualização do recado secreto), a enviar textos em fotogramas de filmes analógicos não revelados (se o militante fosse pego, bastaria abrir o filme; a exposição ao sol apagaria a mensagem) e a programar pontos de encontro entre militantes com senhas e contrassenhas, de modo a lhes garantir a segurança.

Rotina dura, segundo Anselmo. “Recebemos fardamento, armas e mochilas do Exército cubano e fomos levados à região central de Las Villas, para três meses de treinamento de guerrilha. Além dos brasileiros, havia no grupo cinco uruguaios. Depois da primeira semana, começaram as desistências por enfermidade, indisciplina (com os pés rachados, alguns se recusaram a caminhar). Foram separados. Ficariam num quartel até que os cubanos e as organizações que os haviam mandado ali decidissem o que fazer.”

‘RECESSO’ Segundo o relatório, a intensidade do treinamento e a rigidez dos instrutores fizeram com que se deteriorasse a “unidade do grupo”. “Só restava um uruguaio. Entre os brasileiros havia desistências. Em outubro [de 1967], soubemos da queda de Che Guevara. O treinamento entrou em franco recesso. Não havia mais o interesse anterior. […] Pouco depois, entrei em choque com o encarregado do treinamento. Fui isolado num quartel até fins de janeiro.”

Houve mais problemas entre Anselmo e os cubanos. Ele diz que pediu para trabalhar e estudar. “Não nos foi permitido, não tínhamos nenhum documento e nem por iniciativa própria poderíamos fazer alguma coisa para sair da condição de parasitas.”

Em setembro de 1970, finalmente, Anselmo conseguiu voltar ao Brasil. “Trazia uma mensagem cifrada de apresentação para Carlos Lamarca [dirigente máximo da VPR, que havia desertado do Exército em 1969], e ele deveria dar-me tarefas para desempenhar, explicar o funcionamento da organização. Trazia também filmes com esquemas para a construção de armas. Depois de Praga, deveria seguir para Milão, Itália. De Milão para Genebra, onde compraria uma passagem no voo da Swissair até São Paulo.”

Anselmo, que também usava os codinomes Augusto, Daniel, Paulo, Renato e Sérgio, entre outros, foi preso menos de um ano depois, justamente quando as organizações de esquerda acumulavam uma sucessão de baixas em seus quadros. Para continuar o assédio contra o governo militar, começaram a trazer de volta militantes que estavam fora do país, como banidos ou exilados -a maior parte proveniente do Chile ou de Cuba.

A resposta da repressão foi condenar à morte, extrajudicialmente, quem voltava. Segundo o jornalista Elio Gaspari, em “A Ditadura Escancarada” (Companhia das Letras, 2002), “a sentença de morte contra os banidos autodocumenta-se. Entre 1971 e 1973, foram capturados dez. Nenhum sobreviveu”.

Anselmo revelou ao delegado Fleury as senhas que os militantes da VPR que voltavam ao Brasil usariam para apresentar-se e incorporar-se a sua organização.

“Em Recife, a partir de janeiro: Restaurante Maxim, praia do Pina, todas as sextas-feiras, às 11h. O que recebe estará na varanda, apoiando-se com o punho fechado numa das colunas de sustentação, olhando o mar. Quem entra pergunta: ‘Será que tem galinha ao molho pardo hoje?’ A contrassenha do que recebe será: ‘Tem peixada'”. Bastava à polícia, de posse das senhas e contrassenhas, comparecer ao ponto de encontro, para fazer a colheita de informações.

JUDAS Se encarnou o Judas da esquerda brasileira, Anselmo foi só o mais notório a mudar de lado. Segundo Ivan Seixas, da Comissão de Familiares de Mortos e Desaparecidos Políticos, são conhecidas as identidades de 26 “cachorros”. “Quem fez esse tipo de acordo não tem caminho de volta. Já fez o inaceitável. O problema é conseguir se olhar no espelho. A maior parte deles se tornou alcoólatra”, diz.

Os “cachorros” representavam uma ferida de morte num princípio básico da luta guerrilheira: a absoluta confiança que deveria existir entre seus membros. No “Minimanual do Guerrilheiro Urbano”, escrito por Carlos Marighella em junho de 1969, espécie de bíblia dos grupos da luta armada, lê-se: “O pior inimigo da guerrilha e o maior perigo que corremos é a infiltração em nossa organização de um espião ou um informante. O espião apreendido dentro de nossa organização será castigado com a morte. O mesmo vale para o que deserta e informa a polícia”.

Já no final de 1971, Anselmo avisava à equipe de Fleury de que sua atividade como espião havia sido descoberta: “Num informe chegado do Rio, constava, com todas as letras: ‘O cabo Anselmo se entregou à repressão'”. Quem passou a informação foi uma militante, Olga (Inês Etienne Romeu, dirigente da VPR), que, presa, ouviu dois agentes comentando o assunto.

Torturada, estuprada, “quase morta de pancada” segundo o próprio “cachorro”, Olga foi enviada a um hospital. De lá, conseguiu mandar a mensagem da traição de Anselmo ao comando da sua organização. Mas o comandante da VPR no Chile, Onofre Pinto, de origem militar como Anselmo, não lhe deu ouvidos.

No longo período em que atuou como infiltrado, Anselmo chegou a fazer viagens internacionais para encontrar Onofre Pinto, para recolher fundos que financiassem as ações armadas e, enfim, conhecer detalhes da organização no Chile. Na época, o Chile era uma espécie de Meca da esquerda, governada pelo socialista Salvador Allende, depois deposto por Augusto Pinochet. Mesmo relativamente livre, leve e solto, Anselmo nunca tentou desaparecer, fugir de seu papel de delator.

“Sem Anselmo e outros tantos informantes, os comunistas teriam tomado o poder. Ele traiu os companheiros, mas não traiu a pátria”, costuma dizer o policial Carlos Alberto Augusto, 68, o Carlinhos Metralha, assim denominado porque, mesmo no Dops, onde trabalhava, andava sempre com uma metralhadora pendurada no ombro.

‘A FONTE’ Em 8 de janeiro de 1973, na mesma ação em que foi assassinada Soledad, morreram os militantes Pauline Reichstul, Eudaldo Gomes da Silva, Jarbas Pereira Marques, José Manoel da Silva e Evaldo Luiz Ferreira.

Relatórios dos ministérios da Marinha e da Aeronáutica atestam que os seis foram mortos “ao reagir a tiros à ordem de prisão dada pelos agentes de segurança”, a explicação padrão até hoje usada em casos de execução. Anselmo diz que não participou diretamente do massacre porque já tinha sido retirado da área por Augusto.

Seis meses depois, o Dops distribuiu para toda a chamada “Comunidade de Informações” o informe 25-B/73, assinado por “A Fonte”. Assunto: a situação no Chile. Como prova de que a atividade de alcaguete continuava firme e forte, era o relatório de um infiltrado da polícia que participou do “Tribunal Revolucionário” realizado em Santiago, Chile, para julgar o cabo Anselmo e Fleury, entre outros.

“O resultado do julgamento do Tribunal Revolucionário, que reuniu ALN, PCBR, VAR-Palmares, VPR e MR-8 [siglas de organizações da esquerda armada], foi a condenação à morte do delegado Fleury e do ex-cabo Anselmo”, contou o informante.

A VPR, principal acusadora no “tribunal”, leu um informe em que chamava Anselmo de “traidor da luta popular a serviço da ditadura fascista”. Segundo o infiltrado, a VPR afirmava que o cabo “foi preso em São Paulo em junho de 1971 e a partir daí renegou todo o seu passado de lutas e começou a prestar serviços para a ditadura”.

Era tarde demais. Sem braços, sem organização, sem armas, sem dinheiro, os grupamentos armados não conseguiram levar a cabo as execuções. Fleury morreu em 1979, em episódio mal explicado -por suposto afogamento, e o corpo foi sepultado sem ter sido necropsiado-, mas nunca reivindicado por qualquer grupo daqueles.

Anselmo, bem, depois de mudar de rosto em uma cirurgia plástica realizada numa madrugada de 1973 no hospital Albert Einstein, reapareceu aqui e ali, em poucas e ruidosas entrevistas, a última das quais ao programa “Roda Viva” da TV Cultura, em 17 de outubro.

Ele reclama da solidão e do não reconhecimento, por parte da história, de seus serviços. Que fazer? Ainda que agrade a traição, ao traidor tem-se aversão, sabe-se. “Até dentro da comunidade de informações, eu percebia, você percebe, né?, que algumas pessoas [me] desprezavam: ‘Pô, esse filho da mãe aí traiu todo mundo, entregou tudo, vira-casaca’, ou coisa parecida”, disse Anselmo ao repórter Percival de Souza, em relato reproduzido no livro “Eu, Cabo Anselmo” (Globo, 1999). “Arrependimento? Não tenho. Absolutamente, nenhum”, repete sempre.

1oo Anos de Carlos Mariguella

Carlos Marighella nasceu em Salvador, Bahia, em 5 de dezembro de 1911. Era filho de imigrante italiano com uma negra descendente dos haussás, conhecidos pela combatividade nas sublevações contra a escravidão. De origem humilde, ainda adolescente despertou para as lutas sociais. Aos 18 anos iniciou curso de Engenharia na Escola Politécnica da Bahia e tornou-se militante do Partido Comunista, dedicando sua vida à causa dos trabalhadores, da independência nacional e do socialismo.

 

Conheceu a prisão pela primeira vez em 1932, após escrever um poema contendo críticas ao interventor Juracy Magalhães. Libertado, prosseguiria na militância política, interrompendo os estudos universitários no 3o ano, em 1932, quando deslocou-se para o Rio de Janeiro. Em 1o de maio de 1936, Marighella foi novamente preso e, durante 23 dias, enfrentou as terríveis torturas da polícia de Filinto Müller. Permaneceu encarcerado por um ano e, quando solto pela “macedada” – nome da medida que libertou os presos políticos sem condenação -deixou o exemplo de uma tenacidade impressionante. Transferindo-se para São Paulo, Marighella passou a agir em torno de dois eixos: a reorganização dos revolucionários comunistas, duramente atingidos pela repressão, e o combate ao terror imposto pela ditadura de Getúlio Vargas. Voltaria aos cárceres em 1939, sendo mais uma vez torturado de forma brutal na Delegacia de Ordem Política e Social (DOPS) de São Paulo, mas se negando a fornecer qualquer informação à polícia. Na CPI que investigaria os crimes do Estado Novo, o médico Dr. Nilo Rodrigues deporia que, com referência a Marighella, nunca vira tamanha resistência a maus tratos nem tanta bravura. Recolhido aos presídios de Fernando de Noronha e Ilha Grande pelos seis anos seguintes, ele dirigiria sua energia revolucionária ao trabalho de educação cultural e política dos companheiros de cadeia. Anistiado em abril de 1945, participou do processo de redemocratização do país e da reorganização do Partido Comunista na legalidade. Deposto o ditador Vargas e convocadas eleições gerais, foi eleito deputado federal constituinte pelo estado da Bahia. Seria apontado como um dos mais aguerridos parlamentares de todas as bancadas, proferindo, em menos de dois anos, cerca de duzentos discursos em que tomou, invariavelmente, a defesa das aspirações operárias, denunciando as péssimas condições de vida do povo brasileiro e a crescente penetração imperialista no país. Com o mandato cassado pela repressão que o governo Dutra desencadeou contra os comunistas, Marighella foi obrigado a retornar à clandestinidade em 1948, condição em que permaneceria por mais de duas décadas até seu assassinato.

Nos anos 50, exercendo novamente a militância em São Paulo, tomaria parte ativa nas lutas populares, em defesa do monopólio estatal do petróleo e contra o envio de soldados brasileiros à Coréia e a desnacionalização da economia. Cada vez mais, Carlos Marighella voltaria suas reflexões em direção do problema agrário, redigindo, em 1958, o ensaio “Alguns aspectos da renda da terra no Brasil”, o primeiro de uma série de análises teórico-políticas que elaborou até 1969. Nesta fase visitaria a China Popular e a União Soviética e, anos depois, conheceria Cuba. Em suas viagens pode examinar de perto as experiências revolucionárias vitoriosas daqueles países.

Após o golpe militar de 1964, Marighella foi localizado por agentes do DOPS carioca em 9 de maio num cinema do bairro da Tijuca. Enfrentou os policiais que o cercavam com socos e gritos de “Abaixo a ditadura militar fascista” e “Viva a democracia”, recebendo um tiro a queima-roupa no peito. Descrevendo o episódio no livro “Por que resisti à prisão”, ele afirmaria: “Minha força vinha mesmo era da convicção política, da certeza (…) de que a liberdade não se defende senão resistindo”. Repetindo a postura de altivez das prisões anteriores, Marighella fez de sua defesa um ataque aos crimes e ao obscurantismo que imperava desde 1o de abril. Conseguiu, com isso, catalisar um movimento de solidariedade que forçou os militares a aceitar um habeas-corpus e sua libertação imediata. Desse momento em diante, intensificou o combate à ditadura utilizando todos os meios de luta na tentativa de impedir a consolidação de um regime ilegal e ilegítimo. Mas, mantendo o país sob terror policial, o governo sufocou os sindicatos e suspendeu as garantias constitucionais dos cidadãos, enquanto estrangulava o Parlamento. Na ocasião, Carlos Marighella aprofundou as divergências com o Partido Comunista, criticando seu imobilismo. Em dezembro de 1966, em carta à Comissão Executiva do PCB, requereu seu desligamento da mesma, explicitando a disposição de lutar revolucionariamente junto às massas, em vez de ficar à espera das regras do jogo político e burocrático convencional que, segundo entendia, imperava na liderança. E quando já não havia outra solução, conforme suas próprias palavras, fundou a ALN (Ação Libertadora Nacional)  para enfrentar, de armas em punho, a ditadura.

 

O endurecimento do regime militar, a partir do final de 1968, culminou numa repressão sem precedentes. Marighella passou a ser apontado como inimigo público número um, transformando-se em alvo de uma caçada que envolveu, a nível nacional, toda a estrutura da polícia política.

 

Na noite de 4 de novembro de 1969 surpreendido por uma emboscada na Alameda Casa Branca, na capital paulista, Carlos Marighella tombou varado pelas balas dos agentes do DOPS sob a chefia do delegado Sérgio Paranhos Fleury.

Em 11 de setembro de 1996 a Comissão Especial de Mortos e Desaparecidos do Ministério da Justiça reconhece a responsabilidade do Estado pela morte de Marighella.

 

Marighella se estivesse vivo estaria junto ao povo lutando por pão, terra, trabalho, saúde, educação, cultura, lutaria por liberdade e alegria para todos. Se o sonho continua vivo, animando nosso coração e nossos passos, é por força de gente como ele. A democracia brasileira prescinde da abertura dos arquivos da ditadura para exercer o direito à verdade, da localização dos desaparecidos políticos para afirmar a cidadania, da apuração e julgamento das violações dos direitos humanos para inibir a cultura e prática da tortura e uma revisão da política de segurança pública para efetivamente consolidar um Estado democrático de direito, que respeite a todos os cidadãos e em todo território nacional.

Marighella Vive!

Fonte: http://sagradocacete.wordpress.com/2011/12/05/apresentacao-comemorativa-aos-100-anos-de-carlos-marighella-marighella-vive/

100 anos de Carlos Mariguella
imagem de Carlos Mariguella

Denuncia do SOMOS na gestão da ex-governadora Yeda Crusius

Das vinte cidades com maior incidência de AIDS no Brasil, contando número de casos por 100 mil habitantes, quinze estão no RS:
1. Porto Alegre (RS): 111,5
2. Camboriu (SC): 91,3
3. Canoas (RS): 83,0
4. Itajaí (SC): 81,2
5. São Leopoldo (RS): 72,9
6. Alvorada (RS): 72,8
7. Sapucaia do Sul (RS): 70,3
8. Viamão (RS): 68,5
9. Balneário Camboriu (SC): 67,9
10. Cruz Alta (RS): 64,9
11. Rio Grande (RS): 59,4
12. Florianópolis (SC): 57,4
13. Esteio (RS): 56,7
14. Cachoeirinha (RS): 54,0
15. Guaíba (RS): 53,0
16. Pelotas (RS): 51,9
17. Gravataí (RS) 49,9
18. Camaquã (RS): 47,7
19. Criciúma (SC): 47,1
20. Novo Hamburgo (RS): 44,6

Tendências globais HIV na África

A África continua a ostentar uma
desordenada parte da carga global de HIV:
23 milhões de pessoas vivendo com HIV / AIDS
Embora o número de novas infecções
no continente parece ter atingido o pico em
meados da década de 1990, a epidemia continua a ser um
grande desafio para a saúde e desenvolvimento
de muitos países Africano. As epidemias variam
consideravelmente de país para país através
do continente, com estimativas de prevalência
variando de 0,1 por cento em Madagascar
a mais de 15 por cento em alguns dos
países do  sul. Mortes causadas por HIV / Aids continuam a declinar como terapia anti-retroviral (TAR)
O impacto do HIV / AIDS varia consideravelmente nos países da região, dependendo do tamanho e duração do surto. A maioria dos países têm uma epidemia generalizada. Prevalência em adultos superior a 20 por cento em alguns países,
incluindo Botswana (24,8 por cento), Lesoto (23,6 por cento) e Suazilândia (25,9 por cento), de acordo com o Programa das Nações Unidas sobre HIV / AIDS (UNAIDS).

Outros têm-se concentrado epidemias com segmentação da doença,como o Burundi, onde a prevalência de 38 por cento entre os trabalhadores do sexo é 16 vezes maior do que a do população geral adulta. Na África Ocidental, a prevalência geral é significativamente menor do que no Leste e Sul
África, mas as epidemias entre os mais populações de risco (MARPs) são comuns. Devido a esta variação, a estratégia de abordagem para combater esta doença deve ser concebida para responder à epidemiologia da doença individualmente por países e regiões.

Mais informações: http://www.usaid.gov/our_work/global_health/aids/Countries/africa/hiv_summary_africa.pdf

Esperamos que confiável os dados desta fonte…